quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

11. - CAP. X - A DESCOBERTA DO BRASIL - ACASO OU OFICIALIZAÇÃO DA DESCOBERTA



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Terá sido casual o descobrimento do Brasil?
Essa casualidade terá ficado a dever-se a uma tempestade?
Ou foi o resultado de um plano secreto arquitectado por D. Manuel? Provavelmente na sequência de informações que já estariam na posse de D. João II?


Hoje perguntamo-nos com as cartas de ventos e correntes do Atlântico na nossa frente: o que é que justificaria navegar tanto para sudoeste, numa linha de rumo contrária aos elementos e de todo desnecessária para dobrar o Cabo da Boa Esperança? O que é que poderia justificar o incumprimento ou não acatamento das instruções dadas a Cabral por Vasco da Gama?

Uma tempestade seria a explicação. Mas o relato de Pero Vaz de Caminha é totalmente omisso e se ela tivesse ocorrido não a omitiria, o mesmo se dizendo da denominada Relação do Piloto Anónimo e da Carta de Mestre João, que calculou com alguma precisão o lugar do “descobrimento” – 17º - a latitude exacta da Baía Cabrália é de 16º 21’ 22’’.


O Brasil desde muito cedo, que no processo expansionista se encontra envolto por lendas e hipóteses incontornáveis. As chamadas Ilhas Brasil de algumas cartas, ainda do século XIV levantaram dúvidas e inquietaram as mentes de muitos historiadores.


Não nos olvidemos que em navegação sempre terá sido possível, pelo menos no oceano Atlântico a descoberta casual de terras, ficando os seus descobridores no anonimato. Basta uma análise superficial das correntes e ventos do Atlântico Norte e Sul, no Verão e no Inverno, para que possamos compreender o arrastamento de navios desgovernados ou com sérias avarias no aparelho para destinos longínquos. O mesmo poderia acontecer em embarcações onde o falecimento do piloto ou de outros homens experimentados na arte de navegar, daria a incumbência de sobrevivência a simples marinheiros e grumetes.

De qualquer modo, anotemos sequencial e sumariamente as principais hipóteses defendidas por alguns cronistas e historiadores:


No ano de 565, S. Brandão partira para o mar em busca de um local retirado e paradisíaco para meditar e orar a Deus: o Paraíso Terrestre. Segundo uns terá aterrado nas terras do Brasil, segundo outros nas Bahamas ou na Jamaica.
Estamos perante uma lenda. Verdade ou mentira, quem o dirá?!




Em 1341 um capitão de nome Sancho Brandão, da armada do rei português D. Afonso IV terá aportado no Brasil, desconhecendo-se o local.
Esta tese tem como principal fundamento a carta do rei ao papa Clemente VI, datada de 12 de Fevereiro de 1345, onde escreve:
“Diremos reverentemente a Vossa Santidade que os nossos naturais foram os primeiros que acharam as mencionadas ilhas do Ocidente (...). Dirigimos para ali os olhos do nosso entendimento, e desejando pôr em execução o nosso intento, mandamos lá as nossas gentes e algumas naus para explorarem a qualidade da terra, as quais abordando as ditas ilhas, se apoderaram, por força, de homens, animais e outras coisas e as trouxeram com grande prazer aos nossos reinos.”
Não estaria o rei a referir-se às Ilhas Canárias?


Terá Afonso Sanchez, nascido na vila de Cascais, onde tem uma rua com o seu nome, atingido o Brasil ou com maiores dúvidas a América do Norte, em 1486? Será este o piloto anónimo de Colombo?
Afonso Sanchez, que terá chegado ao arquipélago da Madeira com dois ou três tripulantes, todos muito enfermos, onde então se encontrava Cristóvão Colombo por ser casado com a filha do donatário da Ilha de Porto Santo, acabando por morrer com os seus companheiros na casa deste, que os acolheu. Este piloto, muitas vezes denominado Piloto Anónimo, terá por reconhecimento fornecido a Colombo todas as informações que possuía do achamento de terras para além do Grande Mar Oceano, fazendo com que o dito Colombo partisse de imediato para Castela, oferecendo os seus préstimos para a descoberta do caminho por Ocidente para as Índias.


No ano de 1487, Pêro Vaz da Cunha, conhecido como Bisagudo, parte da Mina em direcção ao Oceano, conhecendo-se o rumo mas não a derrota – provavelmente devido à política de sigilo da Coroa.
O nome de Bisagudo ficou ligado à carta que Mestre João escreveu ao rei e onde refere uma carta com a posição do Brasil em poder daquele – vidé supra.


Jean Cousin foi um eminente navegador e soldado. Membro da Escola de Navegação fundada na cidade francesa de Dieppe.
Principal discípulo do Pe. Desceliers, brilhante cartógrafo da época.
Em 1488 enceta uma viagem, que faz parte de um projecto de mercadores que procuravam a exploração do oceano Atlântico.
Diz-se que por altura dos Açores foi atingido por violenta tempestade que o arrastou para Oeste, aportando numa terra desconhecida junto à embocadura de um grande rio, terra essa identificada como Brasil e o rio como o Amazonas.
No entanto, toda a documentação da expedição foi destruída por um incêndio ocorrido nos Arquivos do Almirante em Dieppe no ano de 1694, nada existindo que pareça superar tal perda.


Bartolomeu Dias poderia ter atingido o Brasil antes de Cabral e mesmo antes da viagem realizada por Gama. Afinal quem terá sido o navegador que instituiu a “volta de mar” usada por Vasco da Gama? Qual o navegador que mais conhecimentos, experiência e aventureirismo teria para se arriscar no ignoto Mar Oceano, mesmo contrariando correntes e ventos, na esperança de encontrar “terra firme”? Assim, tendo já realizado o estudo dessa volta de mar, ainda que secretamente, em data anterior a 1494, antes da partida da viagem de Gama para a Índia, e não na torna-viagem de 1488, teria sido Bartolomeu o primeiro navegador português a pisar oficialmente solo de terras brasileiras.
Como já vimos, Bartolomeu parte do Tejo em Agosto de 1487. Descobre e passa o cabo das Tormentas em 1488 e foi impedido pela tripulação de rumar à Índia.
Bartolomeu era um capitão e navegante de uma enorme coragem, capaz de afrontar todos os perigos e desafios. Com ele, apenas tem comparação Nicolau Coelho, e nalguns aspectos, Duarte Pacheco Pereira.
No regresso do Rio do Infante, a frota fez navegação costeira percorrendo a parte meridional de África, tendo aportado a lugares como a Aguada de S. Jorge, o Cabo das Agulhas e o Golfo de dentro das Serras, junto ao qual se ergue o majestoso promontório do Cabo da Boa Esperança. Fazendo rumo Norte entrou pela segunda vez na Angra das Voltas, em 24 de Julho. Da restante singradura de regresso só se conhecem 3 portos de escala. Na Ilha do Príncipe, donde trouxe para Portugal o roteirista Duarte Pacheco que se encontrava enfermo, no Rio de Resgate e na Mina. 
Como já nos temos questionado, daí, terá realizado um alargamento da “volta da Guiné”, aproximando-se ou tocando mesmo a costa brasileira? Ou ter-se-á  aventurado em sigilo para Oeste, depois da descoberta da passagem para o Índico? É facto que ficará para sempre no espaço das meras probabilidades, mas possível pela demora da sua aterragem em Lisboa, em Dezembro de 1488.


Duarte Pacheco Pereira, militar, erudito versado em navegação, participou como testemunha no Tratado de Tordesilhas. Fez parte da frota de Pedro Álvares Cabral e foi à Índia com Afonso de Albuquerque, como capitão da nau “Espírito Santo”.
Já vimos que Bartolomeu Dias na torna-viagem do Cabo das Tormentas aportou à Ilha do Príncipe, donde trouxe para Portugal o roteirista Duarte Pacheco, que se encontrava enfermo.
No seu livro Esmeraldo de situ orbis, redigido entre 1505 e 1508, faz constar que no ano de 1498 tendo-lhe o rei ordenado que fosse descobrir terras ocidentais, passando além da grandeza do mar oceano, achou uma grande “terra firme” – sinónimo de continente – com muitas e grandes ilhas adjacentes, sendo nela encontrado muito fino Brasil (pau) com outras muitas coisas.
Dizia saber por experiência própria e informações alheias (as de Bartolomeu Dias?, perguntamo-nos), que além do Grande Mar Oceano se encontrava uma costa que se estendia desde 70º Norte até 28,5 ao Sul.
Não querendo colocar em causa as afirmações de militar e roteirista de tão elevado carácter e grandiosidade de feitos, que pode inclusivamente ter assistido ao achamento do Brasil pelo capitão navegador Bartolomeu Dias, somos desde já forçados a considerar que Cabral não foi o descobridor do Brasil.



Alonso de Hojeda (1466-1516) e Américo Vespúcio (1454-1512) terão também chegado ao Brasil, ao delta do Rio Açu, no Rio Grande do Norte, em Junho de 1499, segundo Varnhagen.
Um outro historiador assevera que apenas Vespúcio atingiu o Brasil, enquanto que numa outra tradição se afirma que Vespúcio nunca navegou. Enfim, tudo se complica.



É quase certo que o navegador Vicente Yánez Pinzón (1462-1514), atingiu o Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco ou o Cabo Mucuripe, no Ceará, em 26 de Janeiro de 1500. Inclinamo-nos mais para o Cabo de Santo Agostinho.
Vicente Pinzón que partiu com Colombo em 30 de Abril de 1492 no comando da nau Nina.
É ele que nos confirma a sua presença no Brasil, antes de Cabral. Ele e vários historiadores da sua época, com especial relevância para Juan de La Cosa (1460-1510).


Segundo os arquivos, terá partido de Palos no dia 18 de Novembro de 1499 e alcançado uma terra ao Sul do Equador em Janeiro de 1500. Pinzón ter-lhe-á chamado “Santa Maria de la Consolación”.


Também Diego de Lepe, terá desembarcado em Fevereiro de 1500, junto ao Cabo de Santo Agostinho ou do Cabo de São Roque, no Rio Grande do Norte. 



Não mencionamos aqui em pormenor o facto de Pêro Lopes de Sousa (1509-1540), no seu Diário de Navegação, referir a existência de um português encontrado em Cananéia e que teria chegado ao Brasil antes de 1500, o mesmo se dizendo do relato do navegador espanhol Diogo Garcia, que em 1528 remeteu um documento à corte espanhola onde refere a existência no Brasil, há mais de 30 anos, de um degredado português, bacharel Cosme Fernandes – poderá ser o mesmo indivíduo deixado nesse lugar pela expedição de 1502 de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio. Também parece não merecer credibilidade, quanto ao seu conteúdo, o testamento de João Ramalho, transcrito nas notas da Vila de S. Paulo, em 3 de Maio de 1580, perante o tabelião Lourenço Vaz, onde o dito João Ramalho afirmou ter 90 anos de permanência em terras do Brasil, onde teria chegado em 1490, ou seja antes da viagem de Colombo e da de Cabral. No mesmo sentido a carta de um tal Estevão Fróis ao rei D. Manuel faria prova da colonização do Brasil anterior à descoberta de Cabral, mas sem que mencione datas concretas.


De qualquer modo, Cabral veio depois, em Abril de 1500, e as Cartas de Pero Vaz de Caminha e de Mestre João, bem como a Relação do Piloto Anónimo, não são determinantes para o conhecimento do verdadeiro achamento do Brasil, não obstante Mestre João ter indicado ao rei para ver a localização dessa terra consultando o mapa-múndi que estava na posse de um tal Pêro Vaz Bisagudo, o que parece pressupor em tese contrária à dominante, um conhecimento anterior dessa “terra firme” devidamente cartografada.


Cabral não foi o descobridor do Brasil, mas antes o que oficializou uma descoberta anteriormente realizada, muito provavelmente antes da celebração do Tratado de Tordesilhas e que não foi comunicada ao mundo por via dos interesses portugueses e da sua política de sigilo.





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