quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

9. - CAP. VIII - O CAMINHO MARÍTIMO PARA A ÍNDIA



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PREPARAÇÃO DA PRIMEIRA VIAGEM

D. João II procurando obter informações sobre as possibilidades de acesso e potencialidades do Oriente, enviou em missão à Palestina no ano de 1486, Frei António de Lisboa e Pedro de Montarroio.
Com escassos ou praticamente nenhuns resultados, optou por enviar numa outra missão, Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, daqui obtendo preciosos conhecimentos.
Afonso de Paiva viria a falecer, mas Pero da Covilhã remeteria ao rei notícias do comércio oriental então dominado pelos muçulmanos, bem como da facilidade da Índia ser atingida, cruzando o Índico, com partida de Sofala. Das informações resultava que o armamento das caravelas poderia mostrar-se insuficiente, sendo necessário que o poder de fogo dos navios fosse aumentado.

O Rei já contava com os conhecimentos obtidos por Bartolomeu Dias na sua viagem ao Índico, bem como o período das monções. De Junho a Agosto, do mar para terra o que facilitava a viagem de ida e de Dezembro a Fevereiro, do continente para terra, o que permitia o retorno e impossibilitava a ida.

Anote-se, que em 1484 D. João II se negou a apadrinhar financeiramente um projecto do navegador Cristóvão Colombo, que ao que parece, pretendia atingir as Índias Orientais, navegando para Oeste. A tese de Colombo baseava-se na teoria de Pierre d’ Ailly, que no "Tratatus de imagine mundi", publicado em 1410 afirmava que a distância oceânica entre o oeste da Europa e o leste da Índia não poderia ser grande.
Cristóvão Colombo entraria vitorioso no Tejo em Março de 1493, no regresso da descoberta de algumas ilhas das Antilhas, numa viagem que não terá interessado o rei, mais por questões meramente financeiras do que por quaisquer outros motivos comumente invocados pelos historiadores.


Esta viagem levantou vários problemas e após negociações deu origem ao Tratado de Tordesilhas, de 7 de Junho de 1494 assinado entre Portugal e Castela. Por este Tratado o mundo era dividido em duas zonas: dois hemisférios separados por um meridiano traçado a 730 léguas da mais ocidental ilha de Cabo Verde, consignando-se à Espanha o de Oeste e a Portugal o de Leste.
Parece-nos que esta negociação de D. João II, foi de uma subtileza suprema, pois facilitou a viagem de Vasco da Gama à Índia.
Neste Tratado fazem-se referências aos graus do Norte e do Sol, o que equivalerá à citação do Regimento da Estrela do Norte e do Regimento do Sol.



DESCOBRIMENTO DO CAMINHO MARÍTIMO PARA A ÍNDIA



A D. João II sucedeu D. Manuel I (1469-1521), que deu continuidade à preparação até aí meticulosamente estruturada da viagem marítima à Índia.


Segundo se julga, D. João II já teria feito a escolha relativa ao comando da frota, indicando o nome de Vasco da Gama, sendo Bartolomeu Dias preterido por questões estratégicas.


A frota de Vasco da Gama era composta por 4 naus de 3 mastros, com um notável poder de fogo. A S. Rafael era comandada pelo próprio Vasco da Gama, a S. Gabriel pelo irmão de Vasco da Gama, Paulo da Gama, e a Bérrio pelo excelente capitão-navegador que foi Nicolau Coelho.


Segundo Jaime Cortesão, Nicolau Coelho possuía uma rude face de fauno ou de tritão, respirando audácia e alegria bárbara. Devia ser de rijíssima têmpera o capitão navegador. Dir-se-ia possuído pelo encanto do mar. Embarcou infatigavelmente a cada armada. Afundou-se com a nau Faial quando regressava numa das armadas da Índia em 1504.

A armada partiu de Lisboa no dia 8 de Julho de 1497.
No dia 3 de Agosto zarparam da ilha de Santiago em Cabo Verde, onde haviam aportado.
Da frota de Vasco da Gama separou-se uma outra caravela, que se dirigiu à Mina, capitaneada por Bartolomeu Dias, outro grande capitão navegador tal como Nicolau Coelho.


Decorridos cerca de 3 meses afastados da costa africana, no dia 4 de Novembro, lançaram ferro numa baía que denominaram de Santa Helena.
Nesta baía, Vasco da Gama utilizou em terra um astrolábio de madeira, como deve ter acontecido em muitas outras viagens de outros navegadores. No mar, a utilização dos astrolábios de latão não era totalmente fiável. O piloto, em regra, apoiava-se num dos mastros, quase sempre ao maior, para minimizar os balanços que inviabilizavam uma medição isenta de erro.

Em Agosto de 1497 (podendo a armada encontrar-se a cerca de 1500 milhas do Brasil (?)) um dos tripulantes anotou no seu diário que foram encontradas muitas aves como garções, que ao cair da noite voavam rijas contra o su-sueste, como se procurassem alcançar terra.
É óbvio que qualquer marinheiro experimentado, tinha de saber que se se dirigisse para Oeste iria encontrar terra. Já seria do conhecimento, ainda que secreto de alguns capitães e pilotos a existência de terras de Vera Cruz?

Daí partiram evitando os alísios de Sueste, navegando pelo largo, e passaram o Cabo da Boa Esperança dirigindo-se à Angra de S. Braz, onde foi destruído o navio de apoio.

Vencida a corrente de Moçambique, atingiram em 25 de Dezembro a Terra do Natal.
Em 14 de Abril de 1498 a frota chegava a Melinde.

A partir de Melinde, Vasco da Gama passou a ter a colaboração de um dos mais famosos pilotos do Índico, Ahmed-ben-Madjid.


Anote-se que em princípios do século XV, os pilotos do oceano Índico começaram a recorrer à observação de altura dalgumas estrelas para fazerem em segurança e com rapidez a travessia dos Golfos de Bengala e Malaca.
O instrumento náutico utilizado era o kamal, instrumento de navegação destinado à observação da altura dos astros, utilizando o método das alturas iguais.


As naus fizeram então segura travessia da África para a Índia.


No dia 20 de Maio já estavam em Calecute, onde Vasco da Gama se demorou largos meses, tendo decidido retornar a Lisboa, depois de não ter obtido do Samorim de Calecute qualquer reconhecimento.


Trouxe consigo alguns kamal, instrumento a que foi dado o nome de Tavoleta da Índia e que foram adaptados para a navegação no Atlântico pelos pilotos portugueses.



Fez escala em Melinde a 7 de Janeiro de 1499, onde devido à morte por escorbuto de um grande número de tripulantes, ordenou que fosse queimada a nau S. Rafael e a equipagem distribuída pelas duas restantes.


Nicolau Coelho é o primeiro capitão a entrar no Tejo no dia 10 de Julho de 1499.


Vasco da Gama deteve-se na Ilha Terceira por ter o irmão muito doente. Alguns referem que terá aterrado em Lisboa a 29 de Agosto e outros a 8 ou 18 de Setembro.







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(BLOGUE DE NAVEGAÇÃO)



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