PREPARAÇÃO DA
PRIMEIRA VIAGEM
D. João II
procurando obter informações sobre as possibilidades de acesso e
potencialidades do Oriente, enviou em missão à Palestina no ano de 1486, Frei
António de Lisboa e Pedro de Montarroio.
Com escassos ou
praticamente nenhuns resultados, optou por enviar numa outra missão, Pero da Covilhã
e Afonso de Paiva, daqui obtendo preciosos conhecimentos.
Afonso de Paiva
viria a falecer, mas Pero da Covilhã remeteria ao rei notícias do comércio
oriental então dominado pelos muçulmanos, bem como da facilidade da Índia ser
atingida, cruzando o Índico, com partida de Sofala. Das informações resultava
que o armamento das caravelas poderia mostrar-se insuficiente, sendo necessário
que o poder de fogo dos navios fosse aumentado.
O Rei já contava
com os conhecimentos obtidos por Bartolomeu Dias na sua viagem ao Índico, bem
como o período das monções. De Junho a Agosto, do mar para terra o que
facilitava a viagem de ida e de Dezembro a Fevereiro, do continente para terra,
o que permitia o retorno e impossibilitava a ida.
Anote-se, que em
1484 D. João II se negou a apadrinhar financeiramente um projecto do navegador
Cristóvão Colombo, que ao que parece, pretendia atingir as Índias Orientais,
navegando para Oeste. A tese de Colombo baseava-se na teoria de Pierre d’
Ailly, que no "Tratatus de imagine mundi", publicado em 1410 afirmava que
a distância oceânica entre o oeste da Europa e o leste da Índia não poderia ser
grande.
Cristóvão Colombo entraria vitorioso no Tejo em Março de
1493, no regresso da descoberta de algumas ilhas das Antilhas, numa viagem que
não terá interessado o rei, mais por questões meramente financeiras do que por
quaisquer outros motivos comumente invocados pelos historiadores.
Esta viagem
levantou vários problemas e após negociações deu origem ao Tratado de
Tordesilhas, de 7 de Junho de 1494 assinado entre Portugal e Castela. Por este
Tratado o mundo era dividido em duas zonas: dois hemisférios separados por um
meridiano traçado a 730 léguas da mais ocidental ilha de Cabo Verde,
consignando-se à Espanha o de Oeste e a Portugal o de Leste.
Parece-nos que
esta negociação de D. João II, foi de uma subtileza suprema, pois facilitou a
viagem de Vasco da Gama à Índia.
Neste Tratado
fazem-se referências aos graus do Norte e do Sol, o que equivalerá à citação do
Regimento da Estrela do Norte e do Regimento do Sol.
DESCOBRIMENTO DO CAMINHO MARÍTIMO PARA A ÍNDIA
A D. João II
sucedeu D. Manuel I (1469-1521), que deu continuidade à preparação até aí
meticulosamente estruturada da viagem marítima à Índia.
Segundo se julga,
D. João II já teria feito a escolha relativa ao comando da frota, indicando o
nome de Vasco da Gama, sendo Bartolomeu Dias preterido por questões
estratégicas.
A frota de Vasco
da Gama era composta por 4 naus de 3 mastros, com um notável poder de fogo. A
S. Rafael era comandada pelo próprio Vasco da Gama, a S. Gabriel pelo irmão de
Vasco da Gama, Paulo da Gama, e a Bérrio pelo excelente capitão-navegador que
foi Nicolau Coelho.
Segundo Jaime
Cortesão, Nicolau Coelho possuía uma rude face de fauno ou de tritão,
respirando audácia e alegria bárbara. Devia ser de rijíssima têmpera o capitão
navegador. Dir-se-ia possuído pelo encanto do mar. Embarcou infatigavelmente a
cada armada. Afundou-se com a nau Faial quando regressava numa das armadas da
Índia em 1504.
A armada partiu de
Lisboa no dia 8 de Julho de 1497.
No dia 3 de
Agosto zarparam da ilha de Santiago em Cabo Verde, onde haviam aportado.
Da frota de Vasco
da Gama separou-se uma outra caravela, que se dirigiu à Mina, capitaneada por
Bartolomeu Dias, outro grande capitão navegador tal como Nicolau Coelho.
Decorridos cerca
de 3 meses afastados da costa africana, no dia 4 de Novembro, lançaram ferro
numa baía que denominaram de Santa Helena.
Nesta baía, Vasco
da Gama utilizou em terra um astrolábio de madeira, como deve ter acontecido em
muitas outras viagens de outros navegadores. No mar, a utilização dos
astrolábios de latão não era totalmente fiável. O piloto, em regra, apoiava-se
num dos mastros, quase sempre ao maior, para minimizar os balanços que
inviabilizavam uma medição isenta de erro.
Em Agosto de 1497
(podendo a armada encontrar-se a cerca de 1500 milhas do Brasil (?)) um dos
tripulantes anotou no seu diário que foram encontradas muitas aves como
garções, que ao cair da noite voavam rijas contra o su-sueste, como se
procurassem alcançar terra.
É óbvio que
qualquer marinheiro experimentado, tinha de saber que se se dirigisse para
Oeste iria encontrar terra. Já seria do conhecimento, ainda que secreto de
alguns capitães e pilotos a existência de terras de Vera Cruz?
Daí partiram
evitando os alísios de Sueste, navegando pelo largo, e passaram o Cabo da Boa
Esperança dirigindo-se à Angra de S. Braz, onde foi destruído o navio de apoio.
Vencida a
corrente de Moçambique, atingiram em 25 de Dezembro a Terra do Natal.
Em 14 de Abril de
1498 a frota chegava a Melinde.
A partir de
Melinde, Vasco da Gama passou a ter a colaboração de um dos mais famosos
pilotos do Índico, Ahmed-ben-Madjid.
Anote-se que em
princípios do século XV, os pilotos do oceano Índico começaram a recorrer à
observação de altura dalgumas estrelas para fazerem em segurança e com rapidez
a travessia dos Golfos de Bengala e Malaca.
O instrumento
náutico utilizado era o kamal, instrumento de navegação destinado à observação
da altura dos astros, utilizando o método das alturas iguais.
As naus fizeram
então segura travessia da África para a Índia.
No dia 20 de Maio
já estavam em Calecute, onde Vasco da Gama se demorou largos meses, tendo
decidido retornar a Lisboa, depois de não ter obtido do Samorim de Calecute
qualquer reconhecimento.
Trouxe consigo
alguns kamal, instrumento a que foi dado o nome de Tavoleta da Índia e
que foram adaptados para a navegação no Atlântico pelos pilotos portugueses.
Fez escala em Melinde a 7 de Janeiro de 1499, onde devido
à morte por escorbuto de um grande número de tripulantes, ordenou que fosse
queimada a nau S. Rafael e a equipagem distribuída pelas duas restantes.
Nicolau Coelho é
o primeiro capitão a entrar no Tejo no dia 10 de Julho de 1499.
Vasco da Gama
deteve-se na Ilha Terceira por ter o irmão muito doente. Alguns referem que
terá aterrado em Lisboa a 29 de Agosto e outros a 8 ou 18 de Setembro.
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