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A DESCOBERTA DO BRASIL - ACASO OU OFICIALIZAÇÃO DA DESCOBERTA
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Logo após a chegada de Vasco da Gama da Índia, em finais de Verão do ano de 1499, D. Manuel decidiu enviar à Índia uma armada mais poderosa do que a frota anterior.
As riquezas do
Oriente fascinavam e motivavam o jovem rei. Por outro lado intentava
impressionar o Senhor do Mar de Calecute, que havia apoucado Vasco da Gama.
Fosse
diplomaticamente, fosse pelo poder da artilharia, pretendia D. Manuel obter o
monopólio do rentável comércio das especiarias, já que a pimenta era um produto
de primeira necessidade por melhorar o sabor bastas vezes repugnante das carnes
em conserva.
Treze navios
fortemente armados, 1500 homens preparados para combate, para além de pilotos e
tripulantes experimentados nos mares, escolhidos entre os melhores.
Os navios eram
caravelas redondas, assim chamadas devido ao formato arredondado do casco e de
envergar velas redondas para além das triangulares denominadas latinas. Tinham
cerca de 30 metros de comprimento e 6 de boca, com 30 canhões.
O comandante
escolhido, não era tal como Vasco da Gama, um homem do mar. Não foi Bartolomeu
Dias, nem Nicolau Coelho, mas Pedro Álvares Cabral (1467-1520), nobre, militar,
com qualidades diplomáticas, empossado por Carta Régia de 10 de Fevereiro de
1500. Cabral deveria ter por essa altura 33 anos.
Na nau capitânia,
com Cabral, seguiam Pêro Vaz de Caminha, e alguns frades franciscanos. Frei D.
Henrique Soares de Coimbra, que celebrou a primeira missa em terras de Vera
Cruz, tinha um camarote ao lado do de Pedro Álvares Cabral.
Apesar do
“Regimento do Sol” só aparecer em Guias Náuticos de princípios do século XVI,
Pêro de Alenquer utilizou-o nesta viagem, havendo notícias de que José Vizinho havia
estado na Guiné por volta do ano de 1485 para o ensaiar.
Mestre José
Vizinho foi aluno de Abraão Zacuto, que publicou em 1446 o Almanach
Perpetuum, e médico de D. João II.
No dia 9 de Março
parte do Tejo a armada que passa o arquipélago das Canárias alguns dias depois,
cerca de 700 milhas em 5 dias a uma velocidade média de 6 nós, média excelente
mesmo para um veleiro moderno com 10 metros de comprimento fora a fora.
A velocidade era
medida com uma barquinha.
As 800 milhas das
Canárias a Cabo Verde, foram percorridas em 8 dias, a uma velocidade de 4 nós.
Lança ferros no
dia 22 desse mês na ilha de S. Nicolau do arquipélago de Cabo Verde, onde
estranhamente Cabral não fez a aguada – não se reabasteceu de água doce.
Nas águas de Cabo
Verde, no dia 23, perdeu-se a nau de Vasco Ataíde, “comida pelo mar”.
No dia 29 de
Março a frota entrou na zona das calmarias equatoriais, onde os ventos chegam a
repousar por mais de 40 dias ou surgem inusitadamente violentas tempestades de
ventos mudáveis.
Durante dez dias
os navios navegaram à velocidade de um nó.
No dia 9 de Abril
cruza o Equador.
A partir daí,
Cabral teria de fazer-se ao largo, no extenso círculo dos alísios, para depois
rumar a Sul, Sueste e Leste, na direcção do Cabo da Boa Esperança, aproveitando
a “volta de mar” descoberta por Bartolomeu Dias. Volta a ganhar velocidade por
efeito da “corrente brasileira” e de ventos favoráveis – 5 nós.
E foi nesta
volta, imposta pelos ventos e pelas correntes dominantes, que a frota viria a
descobrir o Brasil, enquanto velejava a Sudoeste.
Vejamos numa
primeira aproximação:
No dia 21 de
Abril, os marinheiros constataram a existência de algas à superfície, os
botelhos, o que indiciava a proximidade de terra.
Ao amanhecer do
dia 22, começaram a surgir aves vindas de Oeste (de terra) e pela tarde desse
mesmo dia, ter-se-ão avistado pela primeira vez terras do Brasil.
Ao fim do dia,
com as naus em fundo de 40 metros (14 braças de profundidade) foram deitadas
âncoras em frente ao Monte Pascoal.
Na manhã do dia 23,
os navios acercaram-se de terra até uma profundidade de 9 braças e foram
avistados índios na praia.
Nicolau Coelho,
porventura o primeiro a pisar terras de Vera Cruz, abicou à praia num escaler
procurando estabelecer contacto com os índios, tarefa que resultou infrutífera.
A frota acabou
por partir para Norte buscando fundeadouro seguro, que encontrou após algumas
léguas, na denominada Baía Cabrália.
Esta denominação terá sido dada pelo
historiador Manuel de Casal (1754-1821), porquanto Pêro Vaz de Caminha chamou
ao lugar Porto Seguro.
No dia 25 de
Abril do ano de 1500 Cabral pisava terras brasileiras, depois de Bartolomeu
Dias e de Nicolau Coelho.
No domingo dia
26, o missionário Frei Henrique celebrou a primeira missa nessas terras.
O astrónomo Mestre João, que acompanhava a expedição, em terra, tal como já fizera Vasco da Gama na baía de Santa Helena, observou a altura do Sol com um astrolábio, tendo concluído que a frota se encontrava nos 17º de latitude Sul.
O astrónomo Mestre João, que acompanhava a expedição, em terra, tal como já fizera Vasco da Gama na baía de Santa Helena, observou a altura do Sol com um astrolábio, tendo concluído que a frota se encontrava nos 17º de latitude Sul.
Talvez seja este
o momento para afirmar que um tanto estranhamente, a balestilha só terá sido
utilizada com alguma regularidade no século XVI. Para além de Vasco da Gama e
de Cabral, que não consta que transportassem nenhum destes instrumentos
náuticos, o próprio Fernão de Magalhães levava a bordo 21 quadrantes, 7
astrolábios e nenhuma balestilha.
No dia 2 de Maio,
Cabral partiu rumo ao Cabo da Boa Esperança, tendo o navio de Gaspar de Lemos
retornado a Portugal, dando novas do descobrimento das terras de Vera Cruz,
depois denominadas Santa Cruz e por fim, Brasil.
Já com 11 navios,
ao dobrar o Cabo da Boa Esperança, levantou-se um temporal que fez naufragar 4
navios com as respectivas tripulações.
Ironia do
destino, Bartolomeu Dias seria honrosamente sepultado no seio desse Mar
“maldito e amoroso”, seu lugar de glória de há doze anos atrás.
O navio de Diogo
Gomes rodeou a costa pelo largo das águas do Índico e descobriu a Ilha de
Madagáscar, para depois navegar até à entrada do Mar Vermelho, donde regressou
a Lisboa pela costa africana, apenas com escala em Cabo Verde.
Cabral entrou no
Índico com seis naus e dirigiu-se a Calecute, e depois a Coxim onde instalou
uma feitoria.
Os navios,
dispersos, foram entrando no Tejo na Primavera e Verão do ano 1501.
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