A partir de 1415 intensificou-se o espírito expansionista
dos Descobrimentos, vindo as Ilhas Canárias e a Madeira a constituírem-se como
“bases” de um projecto especificamente africano.
Os pilotos destes primeiros tempos do Infante, navegavam
segundo as regras da técnica a que já aludimos e que se denominava “rumo e
estima”. Quando navegavam junto às costas, durante a noite tinham por hábito
ficar a “pairar”, o que deve ter feito com que procurassem o largo, de molde a
não perderem esse tempo de navegação.
Mas não eram apenas os ventos e as correntes marítimas
que lhes dificultavam a vida.
A linha de rumo não era obviamente constante.
Para um navio que pretendesse seguir a derrota de A a B, sem alteração do rumo
na carta, teria de contar com ventos favoráveis, porquanto as embarcações à
vela estão limitadas quando navegam com o vento na proa. Isto aplica-se
sobremaneira aos primeiros navios que apenas conseguiam progredir com vento de
feição, praticamente no través e na popa. Assim, viam-se múltiplas vezes
obrigados a singrarem em ziguezague, numa bolina muito folgada. Esta singradura
realizada com bordadas, impunha o cálculo das milhas necessárias para
retornarem à linha de rumo estabelecida para a viagem, bem como da distância
dos bordos.
Para a efectivação de tal cálculo, usavam a Toleta de Marteloio, que aparece inscrita na Carta de André Bianco de 1436. Bianco foi um eminente cartógrafo veneziano que numa carta de 1448 faz referência a uma ilha a Oeste de Cabo Verde, o que pode indiciar que em 1447 – ou antes – um navegador português tenha avistado a costa brasileira.
A Toleta tinha duas tábuas. A primeira referia-se
ao percurso em que o navio se afastava do rumo directo e a segunda dava as
indicações para que o piloto pudesse regressar com segurança a esse mesmo rumo.
A Toleta de Marteloio veio a ser substituída pelo
“Regimento Português das Léguas”.
Em 1419 foi feito
o reconhecimento da Ilha de Porto Santo, o mesmo tendo acontecido com a Ilha da
Madeira em 1420.
No ano de 1425
iniciou-se a colonização da Madeira.
João Gonçalves
Zarco e Tristão Teixeira, escudeiros da casa do Infante, ter-lhe-ão solicitado
um navio para atacar os mouros na costa marroquina. Mas, uma tempestade
arrastou-os para a Ilha de Porto Santo.
No seu regresso,
dando conta do feito ao Infante, logo este os enviou em nova viagem sob o
comando de Bartolomeu Perestrelo.
No entanto, as
primeiras culturas agrícolas realizadas nessa ilha de Porto Santo foram
danificadas por uma verdadeira praga de coelhos, o que levou os exploradores à
Ilha da Madeira, enquanto Perestrelo regressava a Portugal.
Apesar de tudo,
suscitam-se dúvidas legítimas quanto à descoberta da Ilha de Porto Santo.
Julga-se que dois anos antes, já os castelhanos aí haviam aportado, hipótese
não despicienda em virtude de à época já estarem estabelecidos no arquipélago
das Canárias.
Por outro lado,
verificamos que a localização das ilhas
de Porto Santo e da Madeira constam de mapas de finais do século XIV.
As ilhas
açorianas do grupo oriental e do grupo central, ou seja, Faial, Graciosa, Pico,
Santa Maria, São Jorge, São Miguel e Terceira, devem ter sido descobertas pelo
ano de 1427, não obstante a tradição indique o ano de 1431 ou 1432, por Frei
Gonçalo Velho, comendador da Ordem Militar de Cristo, de que era Governador o
Infante D. Henrique.
Mas,
analisando-se o planisfério do cartógrafo Valseca, onde pela primeira vez
surgem muito bem demarcados os Açores, aparece um descobridor de nome Diogo,
não se conseguindo ler cabalmente o apelido.
Uns leram “Senill”, outros “Sunis,
“Sinus”, “Simis”. Damião Peres propõe “Silves”. Diogo de Silves teria sido o
descobridor dos Açores e Frei Gonçalo Velho o colonizador.
O descobrimento
dos Açores deve ter sido obra do acaso. O rumo directo é de todo improvável
face aos ventos predominantes de Oeste. Provavelmente algum navio vindo da
Madeira, procurando fugir dos ventos de Nordeste a impedir a sua progressão,
terá rumado a Noroeste, aproveitando posteriormente os mencionados ventos
oriundos de Oeste.
Se a Madeira foi
a “base” para a exploração da costa africana, os Açores foram-no para a
exploração de Oeste.
Sem comentários:
Enviar um comentário