Imaginemos esse
mar imenso a que os portugueses nunca poderiam ser alheios. Imagine-se ainda
todo um conjunto de lendas dessa ignota imensidão e de histórias fantasistas,
de seres incríveis, monstros e demónios – veja-se o Livro de Maravilhas de
João de Mandeville, publicado pela primeira vez em 1366.
Os comerciantes
portugueses começaram por escalar alguns portos da Bélgica – v.g., Bruges
–, França e Inglaterra.
E isto, porque já
no século XIII se construíam navios em Portugal que atingiam portos do Mar do
Norte, pressupondo algum conhecimento da arte de navegar.
Existem notícias
de que no reinado de D. Afonso IV, alguns navios portugueses tenham também
feito rumo às Ilhas Canárias.
Temos dúvidas
quanto à atestada descoberta por alguns historiadores, neste período, de
algumas ilhas dos Açores, sem prejuízo da descoberta da Madeira.
Utilizavam os
navegadores portugueses como já anotámos em momento anterior, o método de “rumo
e estima”, e as cartas-portulanos entrecruzadas de linhas de rumo, linhas
rectas que partem de certos pontos da carta na direcção dos pontos cardeais - as
32 direcções assinaladas nas rosas-dos-ventos.
É interessante anotar, que onde aparece pela primeira vez a rosa-dos-ventos é na Carta de Pinelli, de 1387.
Portugal começa então a manifestar a sua intenção expansionista. Encontrar novos mercados, a que foi acrescentada uma intenção religiosa, uma curiosidade natural, e quiçá um aventureirismo algo incompreensível para as motivações hodiernas, “espírito de aventura que confunde o entendimento”, como escreveu o almirante Kammerer.
É interessante anotar, que onde aparece pela primeira vez a rosa-dos-ventos é na Carta de Pinelli, de 1387.
Portugal começa então a manifestar a sua intenção expansionista. Encontrar novos mercados, a que foi acrescentada uma intenção religiosa, uma curiosidade natural, e quiçá um aventureirismo algo incompreensível para as motivações hodiernas, “espírito de aventura que confunde o entendimento”, como escreveu o almirante Kammerer.
A vida a bordo
era preenchida por tédio, doenças várias, sendo uma das mais devastadoras o
escorbuto, naufrágios constantes com os navios “comidos pelo mar”, expressão
que menciona o seu desaparecimento com o de toda a tripulação. A regra era a de
que em cada 3 homens 2 morriam nestas viagens.
Os homens tinham
direito a alguns quilos de carne salgada distribuídos semanal ou mensalmente,
cebolas, vinagre e azeite, bem como a um biscoito muito duro, meio-podre e com
odor fétido que era a base da alimentação. Vinho e água na proporção de uma
canada por cada um. O vinagre também era usado para desinfectar os porões
infectos e a água mal acondicionada em tonéis impróprios para tal fim, era
fonte de inúmeras maleitas.
O mar era uma
incógnita constante. Nem sempre a experiência dos navegadores era bastante para
que num temporal desfeito, mesmo colocando o navio em fuga controlada, uma onda
de través não o arrastasse em escassos minutos com todos os seus tripulantes
para as profundezas, como aconteceu a Bartolomeu Dias e a Nicolau Coelho.
Atente-se que a
construção naval portuguesa apadrinhada por lei de D. Fernando, do ano de 1377,
foi um estímulo para os descobrimentos portugueses.
No entanto, os
recursos eram insuficientes, os navios pequenos e múltiplas vezes incapazes de
suportar a violência de tempestades de “mar grosso” que ocorriam no Oceano
Atlântico.
É aqui que nos
cumpre honrar a coragem, abnegação, capacidade de resistência ao sofrimento,
aventureirismo de homens que quando largavam ferro na direcção do além desconhecido,
já vislumbravam a morte no horizonte, por doença, fome, sede ou naufrágio,
capitaneados e conduzidos por comandantes e pilotos cultos sempre dispostos a
trocar as suas vidas pelo interesse nacional. Realce-se que como já ficou dito,
em três tripulantes apenas um regressaria com vida, o que justifica o ditado da
época: “se queres aprender a orar, faz-te ao mar”.
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